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21 jan

Clarice na cabeceira – crônicas

Posted in: Desafio Literário, Impressões de Leitura

Primeiro livro para o Desafio Literário 2013. O tema de janeiro foi livre e, portanto, o livro que escolhi foi um de crônicas de Clarice Lispector.

Clarice na cabeceira

Como eu disse a vocês resolvi participar do desafio Literário 2013 e Clarice Lispector foi a minha primeira leitura para o desafio. Tenho 25 anos e nunca tinha lido Clarice, vergonhoso, sei bem disso. Vendo os vídeos de Juliana Gervason – do batom de clarice –  me senti tentada a conhecer a escritora. Em um de seus vídeos, ela fala que quando não conhecemos algum escritor, é melhor começar pelos contos que ele escreveu e, portanto, Clarice na cabeceira – Crônicas foi o livro que escolhi pra me familiarizar com a escritora. E deixa eu te contar uma coisa, SENSACIONAL!

Abrindo um adendo, nos últimos meses me espantei com um sentimento que reconheci em mim. Nunca tinha percebido ele, e quando menos esperei me peguei pensando sobre como eu gosto da minha cidade, como eu me sinto familiarizada e acolhida aqui. Sabe aquele momento de enamoramento? Estou sentindo isso de uns tempos pra cá. Sim, mas o que isso tem a ver com o livro??  O primeiro texto do livro fala sobre a minha cidade.

Ou seja, não precisei ler muito pra já gostar do livro. A maneira como ela descreve a praia de Olinda em “Banhos de Mar” [sugerido por Aparecida Maria Nunes] e como aquele programa em família repercutia nela de maneira positiva, me encheu de encantamento pelo livro. Mas eu estou me adiantando um pouco.

O livro consiste em vinte textos escritos por Clarice Lispector escolhidos por pessoas que conhecem um pouco da sua obra, retirados dos livros “Para não esquecer” e “A descoberta do mundo”. Sua introdução é feita por Teresa Montero e a ideia é cada pessoa escolher o seu texto e fazer uma pequena introdução sobre ele. Com relação a estrutura, apesar de ser completamente leiga a esse respeito, achei ele bem diagramado, com papel pólen – o que facilita bem a leitura.

De todos os textos, seis me arrebatam. E, apesar de ter adorado a leitura de “Banhos de Mar”, ele não entra nessa lista. Achei-o incrível, mas ele não me tomou nos braços, sabe? Então vamos aos mais mais, O primeiro foi o “Caso da caneta de ouro”, com esse texto ela demonstra que de algo trivial pode surgir algo realmente importante. A simplicidade gera a complexidade. Há um que de complexidade em todas as nossas relações, mas a relação entre pais e filhos é uma das que mais me assombram. A escritora me fez sentir aquele momento que passou e que não volta mais. Bem explicito nessa passagem “Mas ficara a mágoa”. Esse texto é aberto pelas palavras de Ferreira Gullar, em um momento ele comenta que quando lemos Clarice, ela ressuscita, baseando-se numa frase da própria escritora “quando não escrevo, estou morta”.

E é impressionante como você se envolve no decorrer da leitura e no final se encontra tão próxima da escritora que se sente intima. Essa sensação não se restringe a esse conto específico, mas perpassa por todo o livro e quanto mais você lê, mais próxima, mais real a escritora se torna.

Outra crônica que achei fantástica foi “Armando Nogueira, futebol e eu, coitada”, introduzida por Ítalo Moriconi. Acredito que diante daquilo que o texto me passa, a frase “Leio só pelo bonito”, já explica porque eu me apeguei a esse texto. As vezes, nem nos interessa tanto, mas é tão bonito! Que já vale a leitura. Em “Se eu fosse eu”, texto escolhido por Lícia Manzo, sempre nos colocamos no lugar do outro, mas nunca no lugar de nós mesmos. Essa sacada é sensacional! E ai surge a pergunta “se você fosse você, como seria e o que faria?

Gostei bastante de “Brasilia: Esplendor” [sugerido por Maria Bonomi], mas tenho que confessar que esse texto entrou pro grupo dos mais mais, pois ele falou diretamente comigo em um momento precioso. Estava na dúvida se faria realmente um blog, se compartilharia a minha alma com o mundo, e de repente me deparo com uma conversa de Clarice com a camareira, na qual ela fala “vá, mulher, e escreva”.  Foi o suficiente pra me tomar o chão, estava ali o que eu deveria fazer. Então parei de inseguranças e aqui estou eu. “As três experiências” [sugerido por Lygia Fagundes Telles] também me ajudou um pouquinho nesse sentimento. A força, o amor pela escrita, o evento maior que é a morte. Tudo isso me chamou a atenção nesse texto.

Mas o que mais me marcou foi a introdução feita por Lygia Fagundes Telles, de uma complexidade simples – como disse logo acima – de um encantamento sublime ao tratar de um tema tão difícil e marcante. Ao tomar o conselho da própria Clarice “desanuvie essa testa e compre um vestido branco” e seguir em frente “eu já sabia, eu já sabia”.

Por ultimo, “Cem anos de perdão” [apresentado por Naum Alves de Souza]me trouxe a um Recife que não cheguei a conhecer. A sensibilidade na qual a criança rouba a flor e toda a simbologia por trás disso fizeram essa crônica ser uma das preferidas.

Não vou me alongar mais, indico por demais a leitura de Clarice Lispector – tanto é que darei de presente a uma amiga minha – e com certeza me aventurarei em outros livros da escritora. Por fim, nada melhor que as palavras de Clarice “Eu também já sofri, ouviu, mulher camareira? Sofrimento é privilégio dos que sentem.” “Vivi o que era pra ser vivido”.

Dados Técnicos:
Título: Clarice na cabeceira crônicas
Editora: Rocco
Organização: Teresa Montero
Ano: 2010
Páginas: 170

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