Noites Brancas, livro para o Desafio Literário 2013. O tema de julho foi livro com “cor ou cores no título”.
Noites brancas foi uma novela escrita em 1848 e conta a história de um indivíduo que se denomina sonhador. Esse personagem é extremamente introspectivo e se depara em uma noite com uma mulher [Nástienhka] a chorar no meio da rua. Aquela cena o toca de alguma maneira e ele tenta se comunicar com ela. Apesar de sua grande dificuldade em interagir, acaba conseguindo criar uma amizade com Nástienhka e vive durante alguns dias um pequeno romance. Nástienhka, por sua vez, encontra-se com um grande problema e diz que existe uma condição para compartilhar essa amizade com o sonhador. Ele não pode fazer a corte a ela, ou seja, ele não pode se apaixonar por ela.
Apesar da estrutura do texto ser bem diferente de outras obras aclamadas do autor, como “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamázov”, começa a se mostrar presente a capacidade que Dostoiévski tem de inserir o leitor nas angustias do personagem, fazer com que nós leitores também soframos junto com o personagem. Essa característica muito bem desenvolvida em crime e castigo, começa a se mostrar aqui através da solidão amarga que o personagem principal vive. Uma tristeza que caminha com ele o tempo inteiro, ou será que carrega ele? O texto é carregado de emoções sentidas, desejadas, esperadas, desesperançadas.
O título do livro se refere a um fenômeno que acontece nos países próximos ao círculo polar ártico e ao círculo polar antártico, onde o Sol, em determinado período do ano, não se põe totalmente, deixando a noite clara.
Esse é o tipo de texto que já fisga o leitor no primeiro parágrafo da leitura, ao menos comigo foi assim. Li o livro em uma viagem de ônibus, e posso dizer que ler Dostoiévski é sempre prazeroso.
“Uma noite prodigiosa, uma dessas noites que talvez só vejamos quando somos novos, querido leitor. O céu estava tão fundo e tão claro que ao olhá-lo uma pessoa era forçosamente levada a perguntar-se se seria possível que debaixo de um céu daqueles pudessem viver criaturas más e tenebrosas.”
Mas o que me chamou atenção mesmo foi o final, uma vez que ele acaba o livro fazendo uma indagação sobre a vida. Quando relacionado ao texto de uma maneira geral, nos faz olhar para o questionamento com outros olhos, com maior interesse para tudo aquilo que representa.
“Meu Deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?”
Quem me conhece sabe o quanto eu gosto da escrita de Dostoievski e o quanto me admira a capacidade dele de trabalhar com a alma do ser humano. Apesar de bem mais romanceado, essa novela, passa, a nós leitores, a essência do que é ler Dostoievski de maneira mais simples. Portanto, acredito que seja um bom começo pra pessoas que nunca leram nenhuma obra do autor. O primeiro livro que li de Dostoievski foi “Os Irmãos Karamázov”, e, desde então, considero um autor que me faz refletir sobre as mazelas da vida, sobre o que verdadeiramente é SER humano. E vamos conversar, né? O personagem principal se chama sonhador e vive em um mundo paralelo, num misto de solidão e desespero.
“Há aqui em São Petersburgo certos recantos verdadeiramente estranhos, que a Nástienhka talvez não conheça. Pode-se dizer que nunca neles bate o sol que brilha para todos os petersburgueses, mas sim um sol diferente, que foi criado só para eles, e que, pode-se dizer, brilha também de uma maneira diferente, com um fulgor que n existe em parte alguma desse mundo. Nesses cantos de que falo, Nástienhka, parece que se agita outra vida, uma vida que não se assemelha de maneira alguma àquela que nos rodeia, como só poderia existir em um reino distante de muitos milhares de léguas, porém jamais aqui entre nós e nestes nossos tempos tão graves, gravíssimos. Mas, precisamente, essa vida é apenas uma mistura de algo de puramente fantástico, de um ideal fervoroso e, ao mesmo tempo, apesar disso – e infelizmente, querida Nástienhka -, de uma obscura rotina e de habitual monotonia , para não chamar-lhe vulgar, vulgar até o desespero. “
Dados Técnicos:
Título: Noites Brancas
Editora: L&PM
Série: L&PM pocket Plus
Tradução: Natália Nunes
Ano: 2012
Páginas: 94
14 de outubro de 2015 at 15:18
Muito bom o artigo e a análise sobre Dostoiévski. Li Crime e Castigo e irei ler Irmãos Karamazov em breve. Tenho agora Noites Brancas na minha lista também! 😉
15 de outubro de 2015 at 20:52
Dostoiévski é um escritor que sempre me impressiona. Sempre uma nova descoberta. =)